Em 2009 acredita-se que só foi pescado 5% do usual nas praias de Imbituba
Tatiana Stock
Imbituba
Durante o fim de semana houve uma briga entre pescadores artesanais e surfistas, na praia do Porto, o que gerou a presença de policiais militares para apaziguar o inconveniente.
Na instrução normativa que aborda a pesca da tainha, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA) especifica que não há proibição à prática do surfe durante a safra do pescado, mas os pescadores esperam que haja colaboração dos surfistas.
“A duração da pesca é de 45 dias, já os surfistas têm todo o restante do ano para praticarem o esporte. Eles têm que entender a necessidade dessa população que adota a pesca como uma fonte de renda”, justifica explica o presidente da Colônia de Pescadores Z-13 de Imbituba, Antonio Carlos Teixeira.
Maurílio S. M., conhecido como Rabuja, surfa desde os anos 70 e fala sobre a versão dele e dos colegas sobre praticar ou não o esporte durante o período de pesca da tainha. “Não desrespeitamos e nem respeitamos. Na verdade é indiferente, o surfista quer saber de onda e se tem swell, os barcos não conseguem entrar”, acredita.
Essa não é a primeira vez que brigas ocorrem. A colônia de pescadores e a Associação de Surfe de Imbituba (ASI) costumavam realizar um acordo de marcação das praias por bandeiras.
A bandeira indicava que era permitido pescar e a vermelha, que o mar está ruim para a atividade, nesse caso pode-se surfar. "Esse ano ainda não fomos procurados pela ASI”, conta Teixeira.
Proibições
Durante a safra, a prática do arrastão estará proibida em praias licenciadas apenas para a pesca artesanal.
De acordo com a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, é proibido qualquer tipo de pesca ao longo de um quilometro das bocas de barra (áreas de lagoas que tem ligação com o mar).
“Essa Lei é do Ministério Público e IBAMA e o pescador que não obedecer pode ser multado”, explica Teixeira.
Panorama da pesca local
Teixeira. “Cerca de 70% dos pescadores locais não vivem exclusivamente da pesca”
Ainda não apareceram os cardumes para alegrar os pescadores artesanais e de alto mar da região sul de Santa Catarina. A expectativa é que os peixes comecem a aparecer durante o período da tainha.
“Em 2009 na mesma época foi retirado da água aproximadamente 5% do que se pescava nos anos anteriores”, calcula o presidente da Colônia de Pescadores Z-13 de Imbituba, Antonio Carlos Teixeira.
Segundo ele, possivelmente o afasto do peixe na costa se deve ao processo de Bate-estaca (realizado no porto de Imbituba em determinadas épocas do ano). “Se o bate-estacas atrapalha as baleias, creio que o mesmo ocorra com os peixes, pois a diminuição foi drástica”, crê.
A APA da Baleia Franca foi informada sobre a hipótese pelo próprio Teixeira e se prontificou a encaminhar a possibilidade a órgãos de estudo de impactos ambientais, mas até agora nada foi apresentado.
Pescadores
“Cerca de 70% dos pescadores não vivem exclusivamente da pesca. A atividade serve como uma complementação de renda”, explica o presidente da Z-13.
Segundo Teixeira, os pescadores se dividem em regiões: Complexo Lagunar, que vai do bairro Nova Brasília à Roça Grande; a Lagoa de Ibiraquera; e as praias de Imbituba, partindo de Itapiruba até a praia do Rosa.
Quanto aos 60 ranchos de pesca localizados na praia do Porto, os pescadores continuam tendo que pedir autorização para qualquer transformação na construção.
Fábrica de gelo
A quinta-feira (17) foi o primeiro dia de funcionamento da fábrica de gelo da Colônia de Pescadores Z-13. A máquina foi doada pelo governo federal e o Ministério da Pesca e Aquicultura e tem capacidade para produzir até três toneladas em 24h.
“Essa preocupação do governo federal beneficia e muito os pescadores. Antes, após pescar eles repassavam o pescado a atravessadores por um preço menor. Agora com o gelo, os peixes agüentam por mais tempo e o pescado pode ser vendido a um valor melhor para o pescador”, conta o presidente, enfocando: “beneficia também as embarcações que vão para alto mar para a pesca de crustáceos”.
O gelo produzido na Colônia será vendido a um preço mínimo, cerca de R$ 0,15 o quilo, e o excedente será vendido a toda a população.
Saúde
Em virtude de dificuldades financeiras a Colônia Z-13 está prestes a deixar de oferecer tratamento odontológico aos pescadores e seus familiares.
O atendimento ocorre duas vezes por semana. “Estamos procurando um parceiro para continuarmos o trabalho e o atendimento”, conta Teixeira.
Matéria de capa, impressa no jornal Popular Catarinense, ano IX, nº 1047, terça-feira, 18 de maio de 2010.
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